A importância do Cerrado para aves como a maxalalagá; ornitólogo explica


Em 2018, especialista reencontrou a ave no Parque do Juquery após 82 anos do último registro na unidade. Após mais de 80 anos, maxalalagá volta a ser registrada no Parque do Juquery
Matheus de Moraes Santos
Em novembro de 2018, durante uma saída para observação de aves, os ornitólogos Matheus de Moraes Santos e André Menini receberam uma mensagem sobre a possível ocorrência da maxalalagá (Micropygia schomburgkii) no Parque Estadual Juquery (PEJy), localizado nos municípios de Caieira (SP) e Franco da Rocha (SP).
A suspeita tinha como base as características da vegetação do parque. Seguindo a recomendação, eles buscaram um ambiente de campo limpo de cerrado, com capim nativo e poucos arbustos.
Na primeira tentativa, conseguiram registrar pelo menos cinco indivíduos em resposta ao playback -reprodução da vocalização de uma determinada espécie usando aparelho de som.
Segundo Matheus, após 82 anos, a maxalalagá voltou a ser registrada na grande São Paulo “É a maior população conhecida da espécie no estado de SP, onde é classificada como criticamente ameaçada”, comenta o ornitólogo.
Rufirallus schomburgkii foi encontrada em área de campo limpo
Matheus de Moraes Santos
Após a descoberta, foi realizada uma segunda expedição, em dezembro, para tentar verificar novas áreas de ocorrência. Na ocasião, foram vistos pelo menos 14 indivíduos vocalizando em resposta ao playback nas áreas de capinzais nativos.
“A destruição do Cerrado, provavelmente, é a causa principal para o desaparecimento desta espécie no estado. No Brasil, ela parece estar associada ao bioma, pois é uma ave campestre que costuma se deslocar pelo ambiente através de trilhas abertas por pequenos roedores, tatus e outros mamíferos.
Ainda conforme o pesquisador, a grande concentração da maxalalagás está no Brasil central, entre Minas Gerais e Goiás, onde existem maiores extensões de Cerrado.
“A espécie também pode estar passando despercebida dentro das áreas de cerrado ainda existentes no estado de SP, sendo um motivo para a escassez de registros. Historicamente, há registros dela em cidades como Itatiba, Itapetininga e Araras”, comenta.
O Parque Estadual Juquery é uma das UCs que protege o habitat da ave por aqui, sendo o maior remanescente de Cerrado na região metropolitana de São Paulo. No entanto, a área é muito afetada por incêndios causados por balões que caem dentro da unidade.
Parque do Juquery, que abrange os municípios de Caieiras e Franco da Rocha
Matheus de Moraes Santos
Bioma em perigo
Divulgado em 5 de janeiro, um relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontou aumento de 43% no acumulado de alertas de desmatamento no Cerrado em 2023, atingindo maior índice da série histórica do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) no bioma. Por outro lado, o mesmo índice caiu pela metade na Amazônia.
O levantamento mostrou que o Maranhão foi o estado que teve a maior área de vegetação nativa suprimida (1.765 km²), seguido por Bahia (1.727 km²), Tocantins (1.604 km²) e Piauí (824 km²).
A espécie
Da família Rallidae, a maxalalagá mede entre 14 e 15 centímetros de comprimento e pesa de 24 a 40 gramas, sendo o macho mais pesado que a fêmea. Sua voz é como o ruído feito pelos gafanhotos.
De bico curto, plumagem das partes superiores da ave é parda com pintas brancas, de contorno preto. Possui as partes inferiores amarelas claras, abdômen branco e bico azul-esverdeado.
Ave possui pintas brancas, contornadas de preto
Matheus de Moraes Santos
É uma ave insetívora, que consome grandes quantidades de formigas. Seu ninho tem formato esférico e é feito de capim seco, com entrada lateral, a cerca de 50 centímetros do solo, às vezes próximo de buritizais, em soqueiras de capins altos.
Habita campos limpos, campos sujos, cerrados em bordas de matas secas e savanas de cupim, podendo adentrar por áreas parcialmente alagadas.
Adulto e filhote de maxalalagá
Luiz Alberto Santos / iNaturalist
Dificilmente vista em campo, a maxalalagá não costuma alça voo, preferindo se afastar correndo e adentrar túneis de roedores campestres ou buracos de tatus. Dentre seus predadores, estão o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e o falcão-de-coleira (Falco femoralis).
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