‘Pensei nas minhas filhas e minha esposa’, diz pedreiro que escapou de desabamento de laje em Campinas

Acidente deixou um trabalhador morto e outro ferido. Imóvel, que estava sendo demolido, fica na Avenida Dr. Moraes Salles. Acidente em obra deixa um morto e um ferido em Campinas
Trabalhadores que escaparam do desabamento da laje de uma obra no início da tarde desta quinta-feira (18), na Avenida Dr. Moraes Salles, em Campinas (SP), relataram à EPTV, afiliada da TV Globo, os momentos de desespero quando viram a estrutura ceder.
“O trabalhador não tem valor, não. A primeira coisa eu pensei nas minhas filhas e na minha esposa, falei ‘como é que vai ser?’. Vi a laje vindo em cima, deitei e esperei. […] Falei ‘vou deitar aqui e esperar a pancada’. Não morri pela mão de Deus”, conta o pedreiro Janilson Souza.
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Janilson era um dos seis operários que trabalhavam na demolição do imóvel. Um deles, de 37 anos, ficou preso entre os materiais e morreu no local. Viaturas da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros apoiaram a ocorrência.
Janilson Souza, pedreiro, escapou de desabamento de laje em Campinas
Johnny Inselsperger/EPTV
“Por mim, eu queria tirar o telhado primeiro, mas eles falaram para tirar primeiro as vigas, e desabou. […] Na hora que estava quebrando, o Zé, que é um dos nossos parceiros, viu que a laje ia cair e falou ‘corre todo mundo!’”, relembra o pedreiro Messias da Silva Castro.
Segundo Messias, a vítima fatal do acidente era o chefe da obra. “Até hoje nunca achei um patrão daquele, um patrão igual aquele eu nunca tive. Perdi o único amigo que tenho aqui em Campinas, não era só meu patrão, era meu amigo”, lamenta.
Obra não tinha alvará
Segundo a prefeitura, a obra não tinha alvará emitido pela secretaria de Urbanismo. “Os fiscais da pasta e a equipe da Defesa Civil estiveram no local e fizeram o termo de interdição total do imóvel, por questões de segurança, e embargo da construção”, diz, em nota.
“Os responsáveis foram intimados a regularizar a obra no prazo de 30 dias e a colocar o imóvel em condições de estabilidade, segurança e salubridade imediatamente. O Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Campinas também vai acompanhar o caso”, afirma.
Já o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) informou, também em nota, que esteve no local do acidente e apura junto à prefeitura e Defesa Civil a “responsabilidade técnica pelo projeto e execução da obra” (leia a nota na íntegra abaixo).
Desabamento de laje em obra deixa um morto e um ferido em Campinas
Enzo Urnhani/CBN Campinas
O que diz a empresa?
Em nota, o Grupo Artzzi, responsável pelo imóvel, afirma que a obra é realizada por uma empresa especializada no ramo de construção civil e contratada especificamente para esse fim, e aguarda a conclusão da perícia sobre as causas do acidente.
“A Artzzi aguardará a conclusão do laudo pericial, colaborando com as autoridades envolvidas para o correto e pronto esclarecimento das causas do acidente. A Diretoria da Artzzi lamenta profundamente o ocorrido, se solidarizando com os familiares e amigos da vítima, esclarecendo que prestará toda assistência necessária, dentro do que for de sua responsabilidade”, destaca o texto.
A empresa também informou que a loja localizada na Avenida Dr. Moraes Salles seguirá fechada até sexta-feira (19).
Nota do Crea-SP
“O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP) informa que esteve no local do acidente em Campinas na manhã desta quinta-feira (19/01) e que está apurando junto à Prefeitura e à Defesa Civil do município a responsabilidade técnica pelo projeto e execução da obra em que houve o desabamento de laje.
O Crea-SP esclarece que, em casos de acidentes, é priorizado o atendimento emergencial pelos órgãos competentes no que tange ao resgate de vítimas, isolamento do local etc. Laudos periciais, alvarás de funcionamento, interdições e embargos são da responsabilidade e competência de órgãos como Defesa Civil, prefeituras e o Instituto de Criminalística (IC). Ao Conselho cabe fiscalizar, controlar e orientar o exercício das atividades profissionais de engenheiros, agrônomos, geocientistas e tecnólogos envolvidos em serviços técnicos de projeto, execução e manutenção. Isso porque, para a realização de quaisquer atividades e serviços, os profissionais e empresas contratados devem estar registrados no Crea-SP. Também é necessário que, para todos os serviços contratados, seja registrada uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), definindo a participação técnica no empreendimento.
Em caso de ocorrências como a de ontem (18/01), a Fiscalização do Crea-SP coleta os dados sobre os responsáveis técnicos pela obra e/ou serviço, bem como sobre a existência da ART para a sua realização. Junto às informações obtidas por meio dos laudos emitidos pelos órgãos que realizaram perícia no local, o Conselho instaura um procedimento administrativo para apurar a responsabilidade pelo ocorrido, garantindo o cumprimento da legislação vigente.
O Crea-SP presta sua solidariedade à família e aos amigos da vítima e segue à disposição das autoridades para contribuir com as investigações”.
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