Ex-apenado muda de vida com produção de vassouras no RN: ‘Trabalhando de forma honesta’


José Camilo Neto ficou preso por 4 anos e meio no CDP de Apodi, onde aprendeu a fazer as vassouras com garrafas pet. Ele montou uma fábrica no quintal de casa e se sustenta da produção. José Camilo Neto criou sua própria fábrica de vassouras de garrafa pet após sair do CDP de Apodi, na região Oeste do RN, onde ficou preso por 4 anos e meio
Marcio Morais
Das grades ao empreendedorismo. Essa foi a trajetória de José Camilo Neto, de 42 anos, que criou sua própria fábrica de vassouras de garrafa pet após sair do Centro de Detenção Provisória de Apodi, na região Oeste do Rio Grande do Norte, onde ficou preso por 4 anos e meio. Foi exatamente atrás das grades que ele aprendeu o trabalho que atualmente lhe sustenta.
José, que mora no município de Itaú, também no Oeste potiguar, foi preso em julho de 2017, segundo ele, “por um erro” que cometeu.
Por causa do bom comportamento, ele foi incluído no projeto ‘Varrendo a violência, empregando a paz’, realizado no CDP de Apodi desde 2017. Nele, os internos produzem vassouras com garrafas pet recicladas e, a cada três dias trabalhados, ganham um dia de remissão.
“O primeiro quesito é ter um bom comportamento. Um interno que não dê trabalho, que não tenha problemas de convivência na ficha. E José Camilo tinha um bom comportamento. Aí demos a oportunidade para ele trabalhar na limpeza e, em seguida, para trabalhar na produção das vassouras”, lembrou o diretor da unidade, Marcio Morais.
José Camilo conta que se apaixonou pela reciclagem. Em fevereiro de 2022 ele progrediu para o regime semiaberto e passou a cumprir a pena em casa, tornozelado. Foi quando ele começou a produzir as próprias vassouras.
“Quando eu saí [do CDP], já pensei em botar a minha fábrica de vassouras, o meu próprio negócio. Os policiais penais me deram uma mesa e eu arrumei ela todinha para fazer minhas vassouras”, contou.
Fábrica de vassouras foi montada no quintal de casa
Atualmente José Camilo e a esposa, com quem é casado desde 2007, têm uma fábrica de vassouras nos fundos de casa. A produção virou o sustento da família.
José Camilo e a esposa, com quem é casado desde 2007, têm uma fábrica de vassouras nos fundos de casa
Marcio Morais
O casal produz cerca de 240 vassouras por mês. Eles compram as garrafas, de 2 litros, a quatro catadores do município ao preço de R$ 0,10. O casal vende a dúzia de vassouras a R$ 90, o que dá em torno de R$ 1.800 por mês.
“Se tiver garrafas, ele faz até mais que 240 vassouras por mês. O problema é que ele mora em uma cidade pequena e de vez em quando ele tem dificuldade com essa questão das garrafas. Se em uma semana der fraco de garrafa, ele procura outras alternativas, como trabalhar de servente. Mas, na hora que as garrafas chegam, a prioridade dele é a produção de vassouras”, afirmou Marcio, que mantém contato com o ex-interno.
“Eu produzo minhas vassouras, junto umas latinhas e vendo também… Eu passei 4 anos e meio preso e hoje trabalho para mim e me mantenho de forma honesta”, assegurou José Camilo.
Projeto ‘Varrendo a violência, empregando a paz’
O projeto ‘Varrendo a violência, empregando a paz’, realizado no Centro de Detenção Provisória de Apodi, nasceu em 2017. O objetivo, segundo o diretor da unidade, é ressocializar os presos e preservar o meio ambiente.
“Eu vi na internet a produção de vassouras com garrafas pet e achei interessante implantar esse projeto aqui na unidade, como uma forma de preservar o meio ambiente e gerar oportunidades para os internos. Iniciamos com cinco [internos] e atualmente temos 10 trabalhando na produção. Além deles trabalharem e reduzirem as penas, eles têm a oportunidade de adquirir uma nova profissão”, disse Marcio Morais.
Projeto ‘Varrendo a violência, empregando a paz’, onde internos produzem vassouras com garrafas pet, é realizado no CDP de Apodi desde 2017
Marcio Morais
Parte das garrafas são doadas ao CDP por escolas da região. “O IFRN [Instituto Federal do Rio Grande do Norte] também é um grande parceiro, sempre está doando garrafas pra gente. E temos uma rede de 10 catadores, que fazem a coleta na cidade e trazem pra cá”, contou o diretor.
Marcio explicou ainda que, depois de prontas, as vassouras são vendidas pelos próprios catadores.
“Eles trocam as garrafas por vassouras prontas e vendem essas vassouras nos comércios da região. O lucro é muito baixo. O projeto é mais social. A gente vende [as vassouras] por um preço bem mais abaixo do que o mercado, somente para manter o projeto”, pontuou.
16 garrafas pet para 1 vassoura
Cada vassoura leva 16 garrafas pet, sendo 15 de 2 litros e uma de 1 litro. “Com uma vassoura a gente tira 16 garrafas que ficariam no meio ambiente. E a vassoura pet tem uma durabilidade muito grande. Não se acaba fácil”, disse Marcio.
Em sete anos de existência, os internos do CDP de Apodi já transformaram cerca de um milhão de garrafas.
“Se tivéssemos mais garrafas, a gente tinha condições de produzir bem mais”, afirmou o diretor da unidade.
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