Caso Beto Braga: polícia reconstitui morte de engenheiro que vivia nos EUA e estava de férias no Brasil


Vítima, de 34 anos, foi encontrada morta em Ribeirão Preto após sair para um encontro às vésperas do Réveillon. Dois suspeitos foram presos até o momento. Suspeitos da morte do engenheiro Beto Braga participam da reconstituição do crime em Ribeirão Preto
Murilo Badessa/EPTV
A Polícia Civil realiza nesta sexta-feira (2) a reconstituição da morte do engenheiro Paulo Roberto Carvalho Pena Braga Filho, conhecido como Beto Braga, de 34 anos. Ele vivia nos Estados Unidos e passava as férias de dezembro em Ribeirão Preto (SP), onde foi encontrado morto em um apartamento.
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A primeira parte da reprodução ocorre no quarto em que a vítima foi localizada, na Vila Amélia, zona Oeste de Ribeirão. Além dos investigadores, participam os dois suspeitos presos até o momento.
Os dois homens tem 28 anos. Um deles foi preso em Nova Iguaçu (RJ) e o outro, em Diadema (SP). Segundo a Polícia Civil, eles estavam com Beto no momento em que ele foi morto.
Segundo o delegado Targino Osório, a reconstituição ocorre por causa das discordâncias envolvendo os depoimentos e das acusações mútuas. “Vamos partir agora para a reconstituição e cada um vai dar a sua versão”, disse.
A participação deles na reprodução ocorrerá de forma separada, justamente para que as versões apresentadas posam ser confrontadas.
Outro passo importante da investigação é a conclusão do laudo pericial, esperada pela Polícia Civil e que pode dar novos indícios sobre a dinâmica da morte do engenheiro.
Relembre o caso
Abaixo, o g1 mostra o que a investigação apontou até o momento:
Como foi o sumiço e como o engenheiro foi encontrado
Como os suspeitos foram identificados e quem são eles
O que dizem os suspeitos
O que diz o laudo da morte
O que aconteceu com o celular de Beto
Quais os próximos passos da investigação
Paulo Roberto Carvalho Pena Braga Filho, de 34 anos, foi achado morto em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
1.Como foi o sumiço e como o engenheiro foi encontrado
Beto desapareceu em Ribeirão Preto na noite de 28 de dezembro após sair da casa dos pais no bairro Santa Cruz, zona Sul da cidade, dizendo que ia se encontrar com amigos.
No dia seguinte, a irmã de Beto, que também mora nos EUA, recebeu uma mensagem de um desconhecido dizendo que havia encontrado o celular do engenheiro. Ela avisou a mãe em Ribeirão Preto, que procurou a Polícia Civil. Orientada e acompanhada pelos agentes, a mãe marcou um encontro em um shopping para recuperar o telefone, mas a pessoa não apareceu.
O corpo de Beto foi encontrado na noite de 30 de dezembro após um motorista de aplicativo ser identificado como sendo o profissional que apanhou o engenheiro na porta de casa na noite do sumiço para uma corrida.
Sobrado onde corpo de Paulo Roberto foi localizado pela Polícia Civil em Ribeirão Preto, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
O homem levou a polícia a um apartamento próximo à Avenida do Café. Em depoimento, ele contou que Beto se mostrou animado e agitado durante a corrida e que, a pedido do passageiro, parou em uma farmácia antes do endereço programado.
Segundo a polícia, o corpo de Beto estava em um apartamento trancado pelo lado de fora em um sobrado. Testemunhas disseram que o imóvel era alugado por garotas e garotos de programa e apontaram um cofre onde ficavam as chaves.
O corpo estava com os pés amarrados, tinha sinais de violência no pescoço e estava em avançado estado de decomposição.
2.Como os suspeitos foram identificados e quem são eles
Na noite em que sumiu, Beto enviou a um amigo a foto de um homem com quem estava em um encontro. Segundo relato da testemunha à polícia, na véspera, o engenheiro contou que sairia com um rapaz que estava vindo do Rio de Janeiro.
Gabriel Sousa Brito (à esquerda) e Marcelo Fernandes Fonseca (à direita) são suspeitos da morte do engenheiro Beto Braga em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
A irmã de Beto entrou em contato com o amigo de Beto, para tentar localizar o engenheiro. Em pesquisas em sites de acompanhantes diante da foto enviada na noite passada, ele conseguiu chegar ao nome de Gabriel Sousa Brito, como sendo a pessoa que acompanhava Beto. As informações foram passadas à polícia.
Por meio de reconhecimento de fotos da polícia, um morador do prédio apontou ter visto Gabriel Sousa Brito no sobrado no dia em que Beto desapareceu.
O responsável pelo aluguel do imóvel também forneceu informações à polícia sobre a identidade do locatário. Ao comparar a foto enviada por Beto ao amigo com o quarto onde o corpo foi encontrado, a polícia confirmou que era Gabriel quem estava com o engenheiro.
À esquerda, foto enviada por Beto Braga a amigo antes de ser achado morto; à direita, foto feita pela Polícia Civil no apartamento onde engenheiro foi localizado Ribeirão Preto, SP
Polícia Civil
A polícia pediu a quebra do sigilo telefônico de Gabriel e passou a monitorá-lo com autorização da Justiça. Ainda no início de janeiro, um mandado de prisão temporária foi expedido contra o suspeito, que acabou preso no dia 15 de janeiro em Nova Iguaçu (RJ), na casa da namorada dele.
Em depoimento à polícia em Ribeirão Preto, Gabriel apontou a participação de um segundo suspeito. Marcelo Fernandes Fonseca foi preso na quinta-feira (25) em Diadema (SP), na casa de um amigo.
Segundo a polícia, os dois mantêm páginas ativas em um site para adultos, onde oferecem serviços de acompanhantes e programas sexuais.
3.O que dizem os suspeitos
Segundo o delegado Targino Osório, responsável pela investigação, Gabriel confessou participação no crime. O advogado dele, Wagner Simões, informou que a investigação vai comprovar que o cliente se encontrou com Beto, mas não teve envolvimento direto na morte dele.
À polícia, Gabriel disse que Marcelo foi quem matou Beto ao aplicar uma gravata nele.
De acordo com o delegado, Marcelo disse ter marcado o encontro com Beto Braga cerca de uma semana antes, por meio de videochamada, e que o apresentou a Gabriel, com quem já havia morado junto em Ribeirão Preto há cerca de quatro anos.
Gabriel Sousa Brito (à esquerda) e Marcelo Fernandes Fonseca (à direita) são suspeitos da morte do engenheiro Beto Braga em Ribeirão Preto, SP
Reprodução/EPTV
Marcelo alega que esperou a chegada de Gabriel – que teria viajado do Rio de Janeiro para Ribeirão Preto às custas de Beto – e que juntos foram para o apartamento na região da Avenida do Café, onde se encontraram com o engenheiro.
No local, Marcelo afirma que usaram drogas e que, em um determinado momento, houve uma desavença entre o engenheiro e Gabriel, que teria lhe dado uma “gravata”, mas parado com a agressão após a situação se acalmar entre eles.
Na sequência, os dois voltariam a se desentender, segundo Marcelo, e o engenheiro teria sido morto por Gabriel com uma nova “gravata” depois de ser chamado de “favelado”. O suspeito não detalhou as circunstâncias da briga.
Marcelo Fernandes Fonseca suspeito de matar o engenheiro Beto Braga em Ribeirão Preto, SP
Marcelo Moraes/EPTV
Em entrevistas concedidas na delegacia à imprensa, a dupla alegou que a morte de Beto foi uma fatalidade, sendo que Gabriel pediu desculpas à família de Beto por duas vezes. Marcelo chegou a afirmar que o engenheiro pode ter morrido durante uma prática sexual.
“Fomos contratados para domar o Beto, ele queria ser domado. Nesse momento de ele ser domado, não sei se foi uso de droga, o que pode ter acontecido, quando a gente foi ver, ele já estava roxo. Usamos drogas. Simplesmente aconteceu isso, foi uma fatalidade. Não teve tentativa de assassinato nenhuma. Foi questão do serviço que ele mesmo contratou. Foi uma fatalidade. Em nenhum momento teve intenção de matar ou de querer prejudicar a vida de alguém.”
No entanto, segundo o delegado, Marcelo não citou qualquer episódio envolvendo relações sexuais durante o depoimento formal.
4.O que diz o laudo da morte
O laudo do Instituto Médico Legal (IML) entregue à Polícia Civil aponta que Beto Braga morreu por asfixia mecânica causada por estrangulamento.
Gabriel Sousa Brito suspeito de matar o engenheiro Beto Braga em Ribeirão Preto, SP
Marcelo Moraes/EPTV
Ainda segundo o laudo, havia um tecido com nó no pescoço de Beto, o que causou uma lesão compatível com estrangulamento, e sinais de morte violenta.
No apartamento onde Beto foi encontrado, a polícia apreendeu várias cápsulas, supostamente de cocaína, latas de cerveja, uma cartela do medicamento tadalafila, usado para disfunção erétil, com dois comprimidos faltantes, e um tubo lacrado de gel anestésico. Todo o material foi encaminhado para a perícia, e a polícia aguarda o resultado da análise.
5.O que aconteceu com o celular de Beto
O caso é inicialmente tratado como latrocínio, ou seja, um roubo seguido de morte, porque o celular da vítima ainda não foi encontrado.
Na sexta-feira (26) durante o depoimento, Marcelo confirmou que, depois da morte de Beto, deixou o local com o celular, um par de tênis e com cartões da vítima e que repassou os objetos para um terceiro.
Beto Braga foi encontrado morto em apartamento na zona Norte de Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
O receptador foi identificado inicialmente como Thiago, um homem já contatado pelas autoridades policiais que, de acordo com Targino, confirmou por telefone estar apenas com o aparelho e se prontificou a se apresentar e a entregá-lo, o que pode ser fundamental para a sequência das investigações.
A entrega do telefone era esperada pela polícia na tarde de sexta-feira, o que não aconteceu.
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