Comida doada, 20h de trabalho, cães estressados: veterinária de Ribeirão Preto relata rotina em abrigo para animais no RS


Rachel Prado está em São Leopoldo (RS) desde segunda-feira (13) e faz parte de equipe responsável pelo resgate de animais na cidade. Até o momento, mais de 300 bichos foram levados ao local, onde recebem alimentos, remédios e carinho. Veterinária de Ribeirão Preto, SP, mostra doações para abrigo de cães no RS
No domingo (12), a médica veterinária Rachel Barretto Prado saiu de Ribeirão Preto (SP) com destino a São Leopoldo (RS) em uma viagem de carro que durou 18 horas.
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De lá para cá, a rotina dela passou a ser única e exclusivamente o resgate de cães afetados pelos temporais que atingem o Rio Grande do Sul há, pelo menos, duas semanas. Até a noite de terça-feira (14), o estado contabilizava 149 vítimas, 112 desaparecidos e 806 feridos.
Desde que as chuvas começaram, 10 mil bichos já foram resgatados, muito graças a iniciativas como a de Rachel, que se uniu ao Instituto SOS Bicho Urbano, de Passos de Torres (SC), para salvar a vida de animais que sequer entendem o que está acontecendo.
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Pelas redes sociais, a veterinária compartilha o dia a dia e pede ajuda de quem quer que possa contribuir com doações. (veja vídeo mais acima)
Ela também mostra o que tem sido feito desde que chegou no abrigo, um supermercado desativado em janeiro, que tem servido de lar para animais e voluntários. (veja vídeo abaixo)
“O local hoje está, mais ou menos, com uns 300 animais. Mas a cada hora chega mais bicho. A gente tem só cachorro aqui para não estressar os gatos de tudo que ele já passaram. Está tendo um abrigo só para gato e um abrigo só para cachorro”.
Veterinária de Ribeirão Preto, SP, mostra rotina em abrigo de cães no RS
20 horas de atendimento e animais assustados
O trabalho de Rachel e outros veterinários voluntários envolve uma rotina puxada de quase 20 horas de atendimento. Para descansar, muitas vezes, sobra menos do que cinco horas.
Entre segunda e terça-feira, diz a médica, os atendimentos começaram às 7h e só terminaram às 2h da manhã.
As refeições tem sido enviadas ao grupo por moradores locais. Eles recebem almoço, lanche da tarde e jantar.
No abrigo, os voluntários também organizam tudo que conseguem arrecadar em campanhas nas próprias contas na internet: pacotes de ração, água, medicamentos e materiais que servem de estrutura para que possam ser montadas casinhas para os cães dormirem.
“Esses animais todos passam por triagem. Todos são avaliados e todos estão tomando vermífugo, antipulga, anticarrapato. Todos estão tomando porque é para prevenir infestação. São muito animais que estão ficando nesse local”, conta.
Materiais doados são feitos para montar casinhas em abrigo para animais em São Leopoldo (RS)
Reprodução/Rede social
Na tarde de quarta-feira, a veterinária participou do resgate de mais cães. Emocionada, ela contou ao g1 como tem lidado com a tragédia no Rio Grande do Sul e de que forma a vida profissional acaba impactando a vida pessoal.
“Uma das coisas que mais me chama atenção é que são bichos que têm dono e pode ser que nem veja mais esses donos. A gente acabou de resgatar dois Shih-tzus que a gente viu que eram tosadinhos, bonitinhos e que pode ser que não vão ver mais os donos, né? Isso me mata muito”.
Rachel conta que os animais estão estressados e assustados e alguns até arredios na hora que os voluntários se aproximam para fazer o resgate.
Uma vez acolhidos e salvos no entanto, eles mudam o comportamento e passam a pedir por carinho.
“Os animais recebem a gente super bem agora que estão aqui dentro [do abrigo]. Pra gente dar comida, eles recebem a gente muito bem. Eles não nos recebem bem quando são resgatados das casas ou até quando chegam no abrigo [por medo]. Mas depois que eles estão aqui, é bem tranquilo”.
Veterinária de Ribeirão Preto, SP, mostra abrigo e animais resgatados em RS
‘Ajudar mais’
Rachel decidiu embarcar em uma viagem para o Rio Grande do Sul com a amiga Natália Selli, que também é veterinária.
Em São Leopoldo, elas se uniram a outros veterinários e estudantes de veterinária de diversos pontos do Brasil.
No supermercado feito de abrigo também há pessoas de outras áreas, como psicólogos e advogados, que ajudam no resgate e no atendimento de animais.
Todo mundo tem ajudado como pode e, para ela, poder atuar presencialmente em uma das maiores tragédias do Brasil é algo que vai ficar marcado.
“Estava sendo muito triste [acompanhar de longe]. É muito difícil ver essa situação e não fazer nada, decidimos vir para cá. Como sou ultrassonografista volante, tive condição de vir para cá, de ficar um tempo sem trabalhar lá [em Ribeirão Preto]. A Natália pediu férias do trabalho dela e o namorado dela [que acompanha as duas] também”.
A previsão, segundo Rachel, é permanecer no Sul por, pelo menos, até sábado (18).
“Chegamos na segunda-feira à noite e pretendemos ir embora no sábado ou no domingo. Vou ficar praticamente uma semana aqui. Onde a gente está ficando é um supermercado que foi abandonado em janeiro e esse supermercado é super grande e a gente está conseguindo colocar todos os animais resgatados das enchentes para cá”.
Veterinária Rachel Prado, de Ribeirão Preto (SP), mostra rotina no atendimento a cães resgatados de temporais no RS
Arquivo pessoal
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