Jovem trans da Etec é aprovado em 3 universidades públicas: ‘Meu sonho era estudar na USP’


Lucca dos Santos Cunha, de 18 anos, foi aprovado em engenharia de produção na USP, UFSCar e Unesp, logo após se formar na Etec Paula Souza. Lucca dos Santos Cunha, um homem trans de 18 anos, foi aprovado em Engenharia de Produção na USP, UFSCar e Unesp, logo após se formar na Etec Paula Souza em São Carlos
Arquivo pessoal
Ser aprovado em uma universidade pública é o sonho de milhares de estudantes do país. Um mix de ansiedade, rotina de estudo, autoconhecimento e momentos de tensão são enfrentados em nome dos estudos. O estudante trans Lucca dos Santos Cunha, de 18 anos, de São Carlos (SP), passou por essas fases e foi aprovado em três das maiores universidades públicas do país.
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Logo após se formar na Escola Técnica Estadual (Etec) Paulino Botelho, ele conseguiu a aprovação no curso de engenharia de produção na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru. Lucca optou pela USP, seu “sonho” acadêmico.
A vaga na Unesp foi pela Vunesp, na UFSCar ele entrou pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e na USP pela Fuvest . O estudante disse que ficou surpreso com a tripla aprovação.
“Eu queria muito passar em alguma faculdade, mas definitivamente não estava tão confiante de que passaria nas três. Cada resultado sai em um momento, então primeiro saiu o resultado da Unesp e eu fiquei sem acreditar que tinha passado de primeira porque foi o vestibular para qual eu estudei menos. Mas na USP foi de longe minha maior surpresa, porque apesar de já estar bem feliz com minha aprovação na UFSCcar, meu sonho era fazer USP” contou.
Aluno dedicado, ele já começou a frequentar as aulas antes da pré-matrícula para não perder conteúdo.
“Por enquanto estou frequentando as aulas da USP não oficialmente , porque minha pré-matricula foi nesta terça-feira (11), mas como já sou da cidade e não quero perder o mínimo de conteúdo possível, eu já tô assistindo as aulas”, comentou.
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Transição e estudos
Lucca dos Santos Cunha, um homem trans de 18 anos, foi aprovado em Engenharia de Produção na USP, UFSCar e Unesp, logo após se formar na Etec Paula Souza em São Carlos
Arquivo pessoal
Lucca é um homem trans, ou seja, ele não se identifica com o gênero feminino de nascimento. O estudante viveu sua transição durante o ensino médio. Aos 16 anos, encarou o processo de adesão ao nome social e apresentação do seu eu verdadeiro para os colegas e professores.
Apesar das fortes emoções que acompanham a transição, ele não perdeu o foco nos estudos. Para reforçar o ensino público, Lucca também frequentou o cursinho popular do CPCEx, um projeto voluntário que oferece aulas pré-vestibular gratuitas, ministradas por estudantes do curso de Licenciatura em Ciências Exatas da USP São Carlos.
“Eu fiz o cursinho da licenciatura em ciências exatas, o CPCEX. A rotina foi bem pesada porque ia para a escola às 7h e ficava até 12h20 , e depois ia pro cursinho e ficava das 14h até 17h30. Além disso, estudava os conteúdos que via no cursinho a noite e tinha aula de redação terça-feira à noite”, contou.
A dedicação valeu a pena, ele se destacou nas provas vestibulares, alcançando 920 pontos na redação do Enem e rendeu aprovações nos cursos de engenharia de produção nas universidades.
Visibilidade
Para o universitário, estar em uma faculdade pública é a chance de ter visibilidade, combater a transfobia e ocupar os espaços públicos.
Lucca tem a esperança de que sua entrada na universidade seja um motivador para outros secundaristas trans, que se engajem a estudar e prestar vestibular ao se verem representados por ele e outros universitários trans.
“Para mim, estudar em uma faculdade pública me da a chance de ter visibilidade, visibilidade para as pessoas trans. Nós não somos só essa comunidade extremamente atacada, nós somos estudantes, nós somos filhos de alguém, nós temos amigos e colegas e nós vivemos e podemos estudar como qualquer outra pessoa. Nós podemos ser engenheiros, podemos ser graduados em qualquer Área que quisermos, ser trans é apenas parte da nossa historia”, disse.
O universitário comentou também que a luta não é apenas dos estudantes trans, e sim, da comunidade, colegas e professores.
Na minha visão essa luta não deve ser só dos estudantes trans mas sim de todo o ambiente, seja academico, dentro de casa ou em qualquer outro lugar, as pessoas devem saber lidar com nossa comunidade, com nossos nomes sociais. Os educadores, pais e colegas devem se acostumar a conviver e lidar com as pessoas trans”, conclui.
Estudante de escola pública é aprovado na USP, Unicamp e UFSCar
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