Discussão na Casa Branca provoca crise com impactos além da Europa, avaliam especialistas


A conclusão dos analistas é que a mudança na diplomacia americana, focada nos próprios interesses, enfraquece os organismos internacionais e ameaça a segurança global. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Reprodução/TV Globo
A nova crise instaurada pela discussão de sexta-feira (31), na Casa Branca, preocupa não só a Europa. Ela traz consequências para todo o planeta.
O presidente e o vice-presidente dos Estados Unidos mostraram, em alto e bom som, que a diplomacia da maior potência econômica e militar agora segue a lei do mais forte.
A discussão chocou pelo tratamento dado ao chefe de um estado aliado invadido pela Rússia, um inimigo histórico dos Estados Unidos. Foi uma quebra de protocolo inédita, segundo o professor de relações internacionais, Vitelio Brustolin.
“Nunca houve um embate público transmitido ao vivo pela imprensa entre chefes de estado. Tudo isso é inédito tanto na história das relações internacionais quanto na história dos EUA”.
O professor Leonardo Trevisan avalia que Trump mandou um recado para a Europa quando pressionou Zelensky a assinar o documento que permitiria a exploração de minerais raros em território ucraniano e disse: “Ou vocês fazem um acordo ou estamos fora.”
“Essa expressão ‘nós estamos fora’ tem um amplo espectro. Ela alcança, principalmente, a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte –, que tem um princípio básico: quando um país integrante da OTAN é atacado, todos os outros são. Os Estados Unidos estão avisando a Europa de que a era da OTAN acabou.
A principal beneficiada é a Rússia, que se fortalece. “Os europeus veem as ações de Trump como favorecendo Putin nesse momento. Ou seja, favorecendo uma nova ocupação de território na Ucrânia. E não acreditam que a guerra acabaria na Ucrânia”, afirma Vitelio Brustolin.
“A forma como Trump vê a paz na Ucrânia não é a forma como os europeus veem. Trump acredita que a paz precisa ser feita a qualquer preço. Mas a paz a qualquer preço leva a outras guerras.”
Os dois professores concordam que a guinada nas relações internacionais torna os Estados Unidos um parceiro menos confiável e que isso poderia favorecer a China. Mas, para eles, Trump usa a aproximação com o presidente russo, Vladimir Putin, e as tarifas comerciais impostas a países aliados como armas de negociação e intimidação.
“Putin serve perfeitamente aos interesses do Trump de assustar a Europa. Vamos usar uma expressão bem brasileira: de manter a Europa na coleira. A Europa não vai fazer negócio com a China, mesmo se isso for muito valioso para ela, mesmo se for o melhor negócio”, destaca Leonardo Trevisan.
A conclusão dos analistas é que a mudança na diplomacia americana, focada nos próprios interesses, enfraquece os organismos internacionais e ameaça a segurança global.
“Não é uma nova forma de diplomacia. É uma diplomacia do século 19, a diplomacia dos mais fortes, a diplomacia pré-organizações internacionais para prevenção das guerras. Toda essa instabilidade pode gerar, sim, uma corrida armamentista e o aumento da insegurança global”, conclui Brustolin.
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