Adolescente abusada por médico durante procedimento em consultório sentiu muita dor, diz denúncia do Ministério Público


Alfredo Carlos Dias Mattos Junior é cirurgião gástrico e deveria ter tratado uma dor de estômago da jovem. Em 2011, ele foi condenado pelo homicídio da ex-mulher. Adolescente relatou sentir dor durante procedimento em que médico afirmou que colocaria o útero o lugar, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
A adolescente de 17 anos que denunciou ter sido abusada por um médico em um consultório sentiu muita dor durante um procedimento que, segundo o profissional, colocaria o útero dela no lugar, diz o Ministério Público de Goiás (MP-GO). Alfredo Carlos Dias Mattos Junior é cirurgião gástrico e deveria ter tratado uma dor de estômago da adolescente. A TV Anhanguera teve acesso exclusivo à denúncia do caso, que aconteceu no Hospital Ruy Azeredo, em Goiânia.
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De acordo com o documento do MP-GO, a adolescente esteve no consultório do médico pela primeira vez em março de 2023, acompanhada pela mãe. Um mês depois, ambas retornaram para atendimento com os resultados de uma endoscopia e de um ultrassom transvaginal que o médico havia solicitado.
O g1 tentou contato atualizado com a defeda do médico, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem. Em nota enviada no dia 18 de fevereiro, o advogado afirmou que soube do caso por meio da veiculação da reportagem e que poderá se manifestar após ter mais detalhes do processo.
Com os exames em mãos, Alfredo disse que a adolescente tinha “anteversão do útero”, conhecida popularmente como “útero invertido”, e que essa era a causa das dores de estômago.
Médico Alfredo Carlos Dias Mattos Junior, condenado por matar a ex-mulher, é denunciado por abuso sexual, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
O documento relatou que o médico pediu que a adolescente retirasse a blusa, abaixasse a calça e se deitasse na maca para corrigir a posição do útero ali mesmo no consultório.
O texto diz que Alfredo iniciou os abusos acariciando as mamas da adolescente, declarando que estava ensinando a fazer o autoexame.
“Em seguida, o denunciado colocou uma luva e introduziu os dedos na vagina da ofendida, manipulando o órgão genital por cerca de um minuto e meio, sob o pretexto de que estaria ‘colocando o útero no lugar’”, afirmou o texto.
Durante os abusos, a vítima sentiu dor e a mãe dela pediu que o médico parasse, informou o texto do MP. Foi então que Alfredo disse que já tinha colocado o útero no lugar, relatou a denúncia.
O g1 solicitou posicionamento atualizado do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) e do Hospital Ruy Azeredo , mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Em notas enviadas no dia 18 de fevereiro, o Cremego disse que ainda não havia sido notificado sobre o caso. Já o hospital declarou que não foi intimado pela Justiça e que desconhece qualquer processo judicial relacionado ao médico. A unidade de saúde reforçou o compromisso em contribuir com o poder judiciário e não respondeu à reportagem se o médico continua atuando no hospital.
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Polícia
Após a segunda consulta onde os abusos aconteceram, a adolescente e a mãe procuraram um ginecologista, que informou que o procedimento não tinha respaldo técnico, disse o MP.
Ouvido pela TV Anhanguera, o ginecologista e diretor da Maternidade Nascer Cidadão Rogério Cândido reafirmou que o procedimento não existe na ginecologia.
“O argumento para fazer uma mudança na posição do útero na região da vagina é descabido. Não existe esse procedimento no meio médico”, declarou Rogério.
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Na denúncia, os promotores relatam ainda que outras pacientes já registraram ocorrência contra Alfredo Carlos por práticas semelhantes, “o que demonstra a habitualidade e a gravidade de sua conduta”.
A Justiça negou o pedido de prisão contra o médico solicitado pelo Ministério Público porque considerou que os argumentos usados pelos promotores são genéricos e se basearam nos relatos feitos pela suposta vítima e pela mãe dela.
No entanto, o juiz Marlon Rodrigo Alberto dos Santos determinou que Alfredo Carlos está proibido de exercer a medicina, além de não estar autorizado a sair de Goiânia por mais de oito dias sem autorização judicial. O médico também deve permanecer em casa entre as 22h e 6h. A proibição do exercício da medicina fica a cargo Cremego, diz a decisão judicial.
Assassinato
O médico Alfredo Carlos Dias Mattos Junior foi condenado pela morte da ex-mulher Magda Maria Braga de Mattos ocorrido em Nova Lima (MG). O caso aconteceu em um hospital, no final da década de 1990. Segundo as investigações, Magda Maria foi internada para fazer uma cirurgia e tratar dores abdominais.
Por não aceitar que ela se relacionasse com outro homem, Alfredo foi até o leito, dopou a ex-sogra com um suco e aplicou álcool no soro da ex-mulher, informou a promotoria. Ao reagir com os medicamentos que Magda tomava, a substância provocou a morte dela.
O médico foi condenado pelo crime em 2011 e recebeu o direito de recorrer da decisão em liberdade. Ele se mudou para Goiânia e, em 2015, Alfredo Carlos foi preso em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, enquanto realizava uma palestra.
Médico Alfredo Carlos Dias Mattos Junior foi condenado por matar a ex-mulher e preso em 2015, em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
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