Inquérito, ação de R$ 2 milhões, corte e reflorestamento: veja o que foi feito após queda de eucalipto que matou criança no Taquaral, há um ano


Isabela Fermino morreu aos 7 anos atingida por árvore no dia 24 de janeiro de 2023 em Campinas. g1 relembra ponto a ponto de tudo o que aconteceu após o acidente trágico. Prefeitura vai dar nome da menina à biblioteca infantil. Imagens mostram extração de árvores na Lagoa do Taquaral
Reprodução/EPTV
A queda de um eucalipto que matou uma criança de sete anos na Lagoa do Taquaral, em Campinas (SP), completa um ano nesta quarta-feira (24).
Em 24 de janeiro de 2023, Isabela Tibúrcio Fermino foi atingida pelo eucalipto enquanto fazia um passeio na Lagoa do Taquaral. Ela estava com a família, comemorando o aniversário da prima, e morreu no local. Na ocasião, uma jovem de 27 anos também ficou gravemente ferida após a queda da árvore. Ela passou por duas cirurgias no Hospital Mário Gatti, antes de receber alta.
A partir do acidente, a cidade viveu um cenário de fechamento de parques, fez um manejo com corte e poda de 181 árvores no Taquaral e iniciou, recentemente, um processo de reflorestamento no local. Saiba mais abaixo.
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Já em relação à investigação e eventuais atribuições de responsabilidade no poder judiciário, o inquérito policial de morte acidental segue aberto depois de três devoluções da Justiça e uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pede a condenação do governo municipal com indenização de R$ 2 milhões.
Enquanto a prefeitura realizou as apurações sobre o que fez a árvore cair e a Polícia Civil investigou se houve indícios de omissão ou negligência, a família da menina viveu um ano de luto e afirmou ao g1 que evita entrar ou até mesmo “passar perto do Taquaral”. Nesta quarta-feira, o pai de Isabela, Sérgio Fermino, fará um ato no local para homenagear a filha e manter a memória dela viva. Veja mais abaixo.
O g1 relembra ponto a ponto de tudo o que aconteceu após o acidente trágico, que chocou a metrópole do interior de São Paulo, desde a investigação e ação da promotoria até o reflorestamento feito pelo Executivo e o projeto da criação de uma biblioteca infantil dentro do parque, que vai receber o nome da menina.
Nesta reportagem você vai ver:
O inquérito policial
Cortes de árvores e fechamento de parques
O que apontaram os laudos
A ação do Ministério Público
Reflorestamento e homenagem com biblioteca
O inquérito policial
A apuração sobre o acidente por parte da Polícia Civil foi feita pelo 4º Distrito Policial de Campinas, sob coordenação do delegado Maurício Geremonte. Um inquérito policial de morte acidental, com 600 páginas, foi concluído e relatado à Justiça em julho.
Entretanto, o Ministério Público reivindicou a inclusão de um parecer da Unicamp, solicitado pelo Instituto de Criminalística (IC), sobre as condições da planta, e devolveu o documento. Em setembro, o inquérito retornou pela segunda vez à delegacia para realização de mais diligências.
Sérgio Firmino e a filha Isabela durante trabalho social em Campinas
Sérgio Fermino/Aquivo Pessoal
O terceiro envio foi feito em novembro, mas, segundo informou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) ao g1 por telefone na terça-feira (23), a Justiça enviou o documento novamente à delegacia por faltar a inclusão de um lado. Portanto, o inquérito segue aberto, mesmo um ano após o acidente.
O documento foi relatado como morte acidental, segundo a investigação, porque não houve indícios de negligência ou omissão, já que laudos apontaram que o eucalipto caiu por conta de intensas chuvas que deixaram o solo vulnerável.
Cortes de árvores e fechamento de parques
Assim que o acidente aconteceu, a Prefeitura de Campinas determinou o fechamento de todos os parques e bosques para que fosse feita uma avaliação em relação às árvores que poderiam ter risco de quedas. Os espaços foram sendo reabertos ao longo do primeiro semestre.
No caso da Lagoa do Taquaral, o parque foi reaberto ao público em 25 de março do ano passado, após extrações de 181 árvores que poderiam apresentar algum tipo de risco aos visitantes, informou a prefeitura.
Foto aérea mostra Lagoa do Taquaral após retirada de eucaliptos
Prefeitura de Campinas/Divulgação
A extração das 181 árvores provocou uma transformação drástica no Taquaral. Além disso, outros parques e espaços públicos também tiveram cortes das espécies, gerando divergências de opiniões e críticas de ambientalistas.
O que apontaram os laudos
Laudos divulgados pelo governo municipal e produzidos pelos institutos de Pesquisa Tecnológica (IPT) e Biológico (IB) de São Paulo apontaram o solo encharcado como provável causa do tombamento, mas também indicaram que idade, as raízes pouco desenvolvidas e o solo pobre podem ter contribuído para o fato
Em contrapartida, um laudo elaborado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) apontou novos fatores como possível causa do eucalipto: a perda de copa (galhos e folhas) ao longo dos anos, e a falta de monitoramento sobre a situação das árvores na principal área pública da cidade.
Trecho do lauto do IPT que aponta condições do eucalipto que caiu e matou menina na Lagoa do Taquaral, em Campinas (SP)
Reprodução
Além disso, o g1 obteve um vídeo gravado em 2015 que a sugere a possibilidade da tragédia ter sido evitada. As imagens mostram um diretor da Secretaria do Verde de Campinas à época, Marcos Boni, alertando, durante reunião do Comdema, sobre os riscos que as árvores ofereciam aos visitantes.
A prefeitura, por outro lado, alegou que não recebeu qualquer documento oficial do Comdema à época e, com base nos laudos do IPT e IB, garantiu que o eucalipto estava sadio e reafirmou que queda foi decorrente do encharcamento do solo provocado pelas chuvas intensas em dias anteriores ao acidente.
A ação do Ministério Público
Em outubro, o Ministério Público ingressou na Justiça com uma ação civil pública na qual responsabiliza a prefeitura pela queda do eucalipto no Taquaral.
A Promotoria pede que o governo municipal seja condenado ao pagamento de R$ 2 milhões em indenização por danos morais coletivos “referentes aos constantes riscos à saúde, à vida e à integridade física da população de Campinas em razão do descumprimento das normas de manejo adequado da arborização urbana no município”.
A ação ainda está em tramitação na Justiça e não teve decisão. O MP solicita ainda que o Executivo adote medidas para melhorar a gestão da Lagoa do Taquaral, “incluindo diretrizes de uso e manejo que garantam a boa governança e preservem as funções ecológicas e recreativas da área”.
Isabela com prima e amigas brincando em piquenique antes de tragédia na Lagoa do Taquaral
Reprodução/EPTV
Além da indenização, a Promotoria também pede a elaboração de um inventário detalhado das árvores localizadas na Lagoa do Taquaral. Em nota, a administração reiterou que institutos especializados atestaram que a árvore que caiu na Lagoa do Taquaral estava sadia.
Em uma ação para responsabilizar a prefeitura também pela queda de uma figueira que matou um técnico de eletrônica no Bosque dos Jequitibás, em dezembro de 2022, o Ministério Público também apontou negligência da administração no manejo preventivo das árvores nos parques públicos da cidade.
Reflorestamento e homenagem com biblioteca
Em junho do ano passado, a prefeitura anunciou o plano de reflorestamento da Lagoa do Taquaral em parceria com o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) e a Secretaria de Serviços Públicos, por conta da extração das 181 árvores. A ideia é concluir o projeto em três anos.
Em nota enviada ao g1 na segunda-feira (22), a administração municipal informou que iniciou efetivamente o reflorestamento no dia 19 de janeiro. No local, que tem aproximadamente 32 mil metros quadrados, estão sendo plantadas 510 árvores adultas. Elas possuem entre 3 e 4 metros de altura e são das espécies aldrago, sapucaia, carvalho brasileiro, mulungu suinã, lofantera da amazônia, monguba, caroba e guaraíba.
As árvores foram plantadas por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que soma R$ 430 mil. Além disso, o Executivo vai implantar, dentro da Lagoa do Taquaral, uma biblioteca infantil com uma praça e dará o nome de Isabela Tibúrcio Fermino.
“Também está previsto o plantio de 2 mil mudas de árvores nativas, que serão fornecidas pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística”, diz o texto da nota.
Árvore caiu na Lagoa do Taquaral, em Campinas, e matou criança
Reprodução/EPTV
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