Gatos celebridades? Criadores falam sobre rotina e cuidados com animais de competição: ‘Consciência e responsabilidade’


Felinos que participam de competições possuem rotinas específicas de cuidados e alimentação balanceada. No entanto, os criadores reforçam que é preciso sempre respeitar as necessidades e o comportamento do animal. Criadores falam sobre rotina e cuidados com animais de competição
Silvia Pratta/Divulgação
Nos bastidores dos grandes concursos de beleza, há um cronograma rígido de preparação, além de uma equipe responsável por garantir que tudo esteja “nos trinques”. E isso não é diferente no mundo dos concursos de pets.
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Recentemente, o gato Diplo, de Sorocaba (SP), viralizou nas redes sociais ao ser parabenizado pelo DJ Diplo por seu prêmio de “melhor filhote do mundo”, conquistado no FIFe World Show 2024, um dos mais prestigiados eventos internacionais de felinos, realizado na Noruega.
Alex com Diplo, gato Persa que ganhou prêmio de “melhor filhote do mundo” no FIFe World Show 2024
Silvia Pratta/Divulgação
Na época, o g1 mostrou a rotina do felino campeão e todos os cuidados que são a base do título de “melhor filhote do mundo”, que incluem uma equipe com estilistas e até assessores. E essa é uma realidade de diversos pets que competem em concursos nacionais e internacionais. No entanto, os criadores reforçam que é preciso sempre respeitar as necessidades e o comportamento do animal.
Alex Daruma, tutor de Diplo e criador das raças persa e exótico, explica que, apesar de não haver uma “licença” para exercer a criação de felinos como profissão, o conhecimento sobre o universo dos animais de competição é imprescindível.
“O primeiro passo para se tornar criador é ter consciência e responsabilidade. É preciso buscar informações necessárias. Há clubes, federações, criadores mais experientes. Não há desculpa para a falta de informação. Não se pode brincar com a vida. As exposições de gatos são uma ótima oportunidade pra aprender, trocar experiências e tirar dúvidas”, reforça.
Renata García é coordenadora pedagógica e criadora de gatos da raça Don Sphynx – conhecidos também como a raça de gatos “sem pelos” – nas horas vagas
Reprodução/Redes Sociais
Renata García é coordenadora pedagógica e criadora de gatos da raça don sphynx – conhecidos também como a raça de gatos “sem pelo” – nas horas vagas. Atualmente, possui nove gatos, sendo dois castrados. Ao g1, ela explica que, mesmo que a criação seja apenas um hobby, ainda é preciso ter uma rede de apoio para proporcionar o bem-estar aos felinos.
“Tenho uma pessoa comigo há muitos anos que divide a rotina de cuidados, e meu marido que me acompanha em todas as exposições, no país e fora. E claro, o apoio de bons veterinários, uma que me atende a domicilio e outra que me atende em clínica, para questões mais complicadas. Um criador tem sempre uma rede de apoio de profissionais e, mesmo que seja em pequena escala, ‘hobbysta’ como eu, ajuda a movimentar a cadeia do mercado pet, gera trabalho e ajuda o desenvolvimento da indústria e comércio”, explica.
Parte do trabalho dos criadores de gatos de raça é o aprimoramento genético. Renata conta que o trabalho de seleção dos animais que irão acasalar é baseado em “características desejáveis e não desejáveis” para determinada raça. Além disso, a criadora reforça que a reprodução é um ponto levado muito a sério, uma vez que a intenção não é apenas gerar novos filhotes.
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“Com o tempo e com o conhecimento das linhas que você trabalha, você vai selecionando os acasalamentos, por exemplo, se eu tenho uma gata com o queixo fraco, mas que tem outras excelentes características, eu procuro um macho que tenha o queixo forte, para compensar. Também vamos aprendendo que alguns gatos ‘passam’ características com mais facilidade. Não é uma ciência exata, é tudo feito com base nos muitos anos de experiência”, explica.
“Ser criador é mais do que colocar um casal para acasalar e ter filhotes. Isso por si só é, inclusive, desnecessário, haja vista quantos filhotinhos sem lar que precisam de adoção. Só faz sentido criar se for para fazer um trabalho sério, voltado ao aprimoramento da raça, com exemplares equilibrados, com saúde e bom temperamento”, completa.
Alimentação é um ponto importante para manter a pelagem dos gatos sempre bonita, segundo Alex
Silvia Pratta/Divulgação
Alex também reforça que a saúde é uma das maiores prioridades no momento da reprodução e que a alimentação possui um papel fundamental para que o preparo ocorra da melhor forma possível. Segundo ele, todo o processo é baseado em estudos que acompanham o desenvolvimento dos filhotes.
“Os criadores não brincam de cientistas loucos, em laboratórios. São anos de estudos, acompanhando o desenvolvimento dos gatinhos; em padrão, saúde e temperamento. Tecnicamente, sempre temos algo para melhorar, e isso é o que buscamos nas linhagens escolhidas. Cruzamento, passando pela gestação, desmame, vermifugação, vacinação – acompanhamos tudo”, diz.
Renata com um de seus gatos em uma competição
Arquivo Pessoal
Rotina de cuidados
Além de uma boa genética, os animais de competição também precisam de cuidados diários, que se intensificam à medida em que o evento fica mais próximo. Para Alex, que cuida de felinos com pelos mais longos, a alimentação e a escovação diária são os pontos chave.
“Pra manter a pelagem sempre linda, é preciso pensar na pele. Pele saudável, pelo saudável. Alimentação super premium é fundamental. Diariamente, há momentos breves de escovação e limpeza de olhos. Semanalmente, cuidados com boca, orelhas, unhas. O manejo é muito importante”, explica.
Alex com os gatos
Silvia Pratta/Divulgação
Os cuidados diários são para todos os gatos. Porém, Alex explica que aqueles que são selecionados para competições recebem mais atenção quanto à frequência e o tempo de escovação, além de banhos e dietas específicas.
“Nesse ponto, os nossos groomers (profissionais para os cuidados com a estética) têm mais trabalho. Entram sessões de fotos, propagandas. Por isso, devem estar sempre em condições de exibição. Impecáveis”, conta.
Do lado oposto da moeda, Renata, que cuida de felinos sem pelos, explica que a higienização correta da pele dos animais contribui não só para o bem-estar deles, mas também para a saúde.
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“O cuidado com o sol é redobrado para evitar ressecamentos e manchas na pele, também mantenho as unhas de todos bem aparadas para evitar que se arranhem durante brincadeiras e capricho na suplementação e nos probióticos para aumentar a imunidade”, explica.
Por trabalhar fora em tempo integral e levar a criação como um hobby, a coordenadora pedagógica tem a ajuda de uma pessoa para cuidados de limpeza do ambiente e troca de potes, cobertores.
“Quando eu chego no fim da tarde, assumo cuidados como dar as vitaminas, corte de unhas, limpeza de orelhas, banho se algum precisar, sachês… Geralmente, só paro de mexer com eles na hora de dormir. Se ficasse em casa, teria coisas pra fazer o dia todo com eles”, diz.
Lidando com o estresse
Renata com um de seus gatos em uma competição
Arquivo Pessoal
Além dos cuidados com a saúde e bem-estar dos felinos, outro ponto importante é a forma como lidam com ambientes potencialmente estressantes. Segundo Renata, gatos com temperamentos mais complicados, de difícil socialização, geralmente não são selecionados para participarem de concursos.
“A própria seleção que fazemos na hora de escolher que filhotes ficam no gatil para serem levados a exposições também considera temperamento. Um gato estressado dificilmente teria sucesso em shows, então a gente já escolhe desde cedo os mais amorosos, que gostam de interagir. Se não for confortável para o gato não tem sentido”, diz.
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A criadora também reforça a importância da socialização entre gatos. Como os ambientes de competição são locais com muitos animais, Renata explica que o treinamento é essencial para que não se estressem ao lado de outros felinos.
“Meu maior cuidado é sempre deixar juntos os gatos que vão competir e, as vezes viajar, para não se estranharem e poderem dividir a mesma toquinha na exposição ou mesmo o quarto do hotel, sem estresse”, conta.
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Além da socialização com outros gatos, a relação com os humanos também é levada em conta, uma vez que os felinos serão manipulados pelos juízes durante a avaliação.
“Desde bem novinhos, os filhotes aprender receber e aceitar o toque. O manuseio entre as orelhas, entre os dedinhos, na boca. Tudo isso, acaba sendo transformado em carinho e ensinando os gatos a gostar cada vez mais de socializar com a gente. Com isso, ele se torna dócil para as escovações de pelagem e dentes”, explica Alex.
O grande dia
A rotina de preparação é focada em garantir uma melhor performance nos concursos. Alguns deles são regionais, como o Winner Show, ou até abrangem a região das Américas, como é o caso do American Winner Show. Dentre os internacionais, um dos maiores é o FIFe World Show.
Gerson Alves Pereira tem 62 anos e é arquiteto por formação, mas também atua como juiz de competições de gatos no Brasil e em outros países há 15 anos e é presidente do Clube Brasileiro do Gato. Também já foi criador de gatos Persas e, com inúmeras participações em concursos, acabou se interessando pelo trabalho dos juízes.
Gerson Alves Pereira é juiz de competições de gatos e presidente do Clube Brasileiro do Gato
Arquivo Pessoal
“Eu me encantei ao ver os juízes avaliando os gatos, manipulando os gatos. Fui aprendendo com eles, mas é preciso ter vários pré-requisitos, como ser criador, ter gatos premiados, certificados, etc. Também é preciso fazer um exame de admissão, estudar muito as raças, as regras de julgamento, todos os protocolos e todos os standards. Também há exames escritos e práticos, e todos devem ser feitos em inglês, francês ou alemão, à escolha do aluno”, explica.
Ao g1, Gerson explica que os concursos são separados por classes: macho adulto, fêmea adulta, filhotes, etc. Primeiro, o felinos são julgados e avaliados para receberem a titulação, que é o prêmio pelo qual irão disputar, seja campeão, grande campeão, campeão internacional ou supremo campeão.
Segundo o juiz, quando há vários gatos da mesma variedade, há uma premiação especial. Além disso, os gatos castrados têm um campeonato paralelo, e não competem com os outros felinos.
Gerson participou de inúmeros concursos, nacionais e internacionais
Arquivo Pessoal
“Atuar como juiz não é fácil. A primeira coisa que a gente tem que ter em mente quando estamos julgando um gato é olhar para ele e procurar as qualidades. A gente não senta e fica procurando defeitos no animal. Nos envolvemos com o gato e procuramos pelas qualidades. Isso é muito importante, e faz a atividade ser prazerosa”, conta.
As características são avaliadas de acordo com os critérios de cada espécie e, ao final, os gatos que possuem a maior pontuação são “nominados”. “A partir disso, eles são apresentados na mesa para os juízes e avaliados novamente e, depois, o vencedor de cada categoria é selecionado”, explica.
Conscientização
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Um dos principais pontos defendidos por Alex e Renata é a conscientização a respeito da criação de raças no Brasil. Segundo eles, muitas vezes, o trabalho é confundido com “maus-tratos” quando é, na verdade, o oposto disso.
“O trabalho que fazemos visa melhorar as características das raças, aprimorar a saúde dos gatos. Tudo é feito no tempo deles, nada é forçado ou imposto se eles não quiserem”, afirma Alex.
“Os gatos fazem parte da família. Fazem parte das atividades, das conversas. Estão presentes em todos os momentos. Não lidamos como trabalho ou obrigação nada que envolve nossos gatos. Fazemos com prazer, satisfação. Se é feito com amor, não é trabalho. Massageia por dentro e contribui para nosso bem estar. O coração sorri e eles agradecem”, finaliza.
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