Fogo amigo sabotou potência do corte de gastos

O populismo de parte do governo que resistiu e lutou contra um corte de gastos profundo acabou por sabotar o anúncio do ministro Fernando Haddad na noite desta quinta-feira (28).
Misturar isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil reais, medida popular, mas que vai na contramão de um ajuste fiscal, com um pacote de corte de gastos esperado há semanas por agentes econômicos, acabou por minar a pouca confiança que já existe no compromisso da área política do governo em adotar medidas duras para controlar o endividamento do país.
Mais ainda, o episódio desta quinta-feira ampliou a percepção de que os maiores adversários da agenda de Fernando Haddad estão dentro do governo. O chamado fogo amigo, perceptível desde a chegada de Lula ao poder em 2023, mas que se tornou a maior fonte de desgaste para Haddad.
Primeiro, a decisão de anunciar a isenção do IR junto com os cortes – atribuída a Lula diretamente. Depois, o vazamento da informação antes mesmo de se informar a magnitude do corte – os R$ 70 bi em dois anos acabou em segundo plano. A reação foi imediata: o dólar bateu o maior valor de sua história e os justos futuros subiram a um patamar cada vez mais difícil para o próprio governo gerir sua dívida.
A potência do anúncio realizado nesta sexta já foi enfraquecida pelas dúvidas, amplificadas ontem, sobre se o governo irá trabalhar em conjunto para aprovar as medidas no Congresso.
Ao lado de Haddad, quem começa a sofrer com o fogo amigo, antes mesmo de sentar na cadeira, é o escolhido de Lula para comandar o Banco Central, Gabriel Galipolo. Na atual circunstância, não há escapatória para a alta de juros, e na medida em que 2026 se aproxima, a pressão para a queda na selic se intensificará.
As condições externas, com guerras, crescimento do protecionismo e o resultado das eleições nos EUA não têm ajudado. Mas a situação da economia do Brasil, explicitada por um dólar que já se valorizou mais de 20% frente ao Real neste ano – o que se traduz na inflação que todo brasileiro sente no bolso – é responsabilidade do governo e de seus embates e boicotes internos.
– Esta reportagem está em atualização
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