Falso médium prometia cura espiritual e bens materiais em troca de relações sexuais com as vítimas


PM aposentado que se dizia médium foi preso em Salesópolis, na Grande SP, por suspeita de assédio e abuso sexual em sessões em centro religioso. De acordo com a polícia, cinco vítimas foram identificadas. Falso médium tinha caderno com nomes e horários dos “atendimentos espirituais” das vítimas
Reprodução/TV Diário
O policial militar aposentado que se dizia “médium” e que foi preso por assediar e abusar sexualmente de mulheres em Salesópolis, na Grande São Paulo, fingia estar incorporado para “aconselhar” vítimas a terem relação sexual com o suspeito, em troca de bens materiais e cura espiritual. O g1 teve acesso ao depoimento de duas das vítimas (leia abaixo).
A polícia disse que, até o momento, cinco vítimas foram identificadas. Todas seguiam um perfil parecido: jovens e de baixa renda. O suspeito tinha, inclusive, um caderno em que anotava os nomes e horários dos “atendimentos espirituais” de cada vítima (veja na foto acima).
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Assédio e ameaças
A primeira vítima, de 26 anos, contou que conheceu o policial militar aposentado em 2020, quando começou a trabalhar em um mercado de bairro de propriedade do suspeito. Ela relatou que, além das atividades espirituais acontecerem no centro religioso, que fica nos fundos da casa em que o suspeito mora com a esposa e três filhas, parte das sessões eram feitas no próprio mercado. Por conta disso, ela acabou se interessando pelo tratamento espiritual e começou a frequentar o centro.
De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima disse que, em meados de agosto de 2022, teve um desentendimento com o marido e decidiu desabafar com uma entidade chamada “João Caveira”, que estaria incorporada no suspeito. Durante essa conversa, o homem que dizia estar incorporado afirmou que a vítima “se apaixonaria por um homem de olhos verdes”.
Dias depois, a mulher disse que a suposta entidade a mandou ficar até o final de outra sessão porque ela precisava dar um beijo no suspeito. Em troca, a jovem receberia “benefícios” não só espirituais, mas também materiais, como carro, faculdade paga, cabelos e unhas pagos e dinheiro. Entretanto, a vítima não beijou o suspeito.
Em outro momento, a jovem foi abordada mais uma vez pelo policial militar. Na ocasião, a situação aconteceu dentro do próprio mercado em que ela trabalhava e, também, o homem alegava estar incorporado por uma entidade diferente: uma mulher, “Tereza”. Segundo a vítima, a suposta entidade insistiu para que a mulher começasse a se relacionar amorosamente com o suspeito e que devia se “entregar” para ele – neste momento, a “entidade” apalpou as partes íntimas da mulher.
Após a vítima afirmar que não teria nenhum tipo de relação com o suspeito, de acordo com o boletim de ocorrência, o homem – que dizia estar incorporado – começou a ameaçá-la, dizendo, por exemplo, “vou acabar com sua vida e com a vida de seu filhos” e “vou fazer um trabalho para você nunca mais conseguir nada nessa vida”.
Em outubro de 2022, a jovem decidiu pedir demissão do mercado e se mudou para Biritiba Mirim com o marido. A mulher contou que, com o tempo, foi descobrindo casos semelhantes ao dela na cidade, até que, no começo deste ano, conheceu uma outra vítima do falso médium.
Assédio e abuso sexual
Essa segunda mulher, de 19 anos, contou que estava passando por problemas no relacionamento amoroso e, por conta disso, decidiu procurar ajuda espiritual.
A entidade prometeu tratamento e cura espiritual, além de bens materiais, e, em troca, a jovem tinha que se relacionar sexualmente com o suspeito. Meses depois, o policial militar aposentado acabou estuprando a vítima, que estava vulnerável.
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Sobre as investigações
O delegado Ricardo Glória afirmou que a suspeita é de que o centro religioso do falso médium exista desde 2017 e que, antes do centro religioso começar a funcionar em Salesópolis, o suspeito atuava em Biritiba Mirim.
“Nós suspeitamos de que outras vítimas, tanto de Biritiba Mirim quanto de Salesópolis, possam denunciá-lo em algum momento”, disse.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) esclareceu que a Delegacia de Salesópolis instaurou inquérito policial para investigar todas as circunstâncias dos fatos. O policial militar aposentado, de 61 anos, foi preso e levado ao Presídio Romão Gomes.
O g1 tenta localizar a defesa do suspeito.
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