PM aposentado que se dizia ‘médium’ é preso por suspeita de assédio e abuso sexual de mulheres na Grande SP


Suspeita da polícia é de que o centro religioso exista desde 2017. Até o momento, cinco vítimas foram identificadas. O caso foi registrado em Salesópolis. PM aposentado que se dizia ‘médium’ é preso por suspeita de assédio e abuso sexual de mulheres na Grande SP
Vinícius Silva/ TV Diário
Um policial militar aposentado, de 61 anos, que se dizia “médium” foi preso, nesta quinta-feira (18), após ser acusado de assediar e abusar sexualmente de mulheres que acreditavam em uma “cura espiritual”. O caso aconteceu em Salesópolis, na Grande São Paulo, onde o suspeito atuava. Ele foi levado ao Presídio Romão Gomes, na capital.
O delegado Ricardo Glória afirmou que a suspeita é de que o centro religioso do falso médium exista desde 2017. Ele disse que, até o momento, cinco vítimas foram identificadas (leia o depoimento de duas vítimas abaixo). Todas seguiam um perfil parecido: jovens e de baixa renda.
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“Na casa dele, em um porão escuro sob a luz de velas, ele fazia as ‘incorporações’. Já no estabelecimento comercial – que ele era proprietário – eram feitas cirurgias espirituais, mediante o recebimento de dinheiro”, disse o delegado.
Suspeito de abuso sexual é preso em Salesopolis
Segundo Glória, o suspeito não tinha alvará de funcionamento, nem CNPJ e nenhuma autorização de alguma associação ligada à atividade religiosa que alegava praticar.
“Existe a suspeita de que antes de ele [o centro religioso] funcionar em Salesópolis, ele também atuava em Biritiba Mirim. Há suspeita de que outras vítimas, tanto de Biritiba Mirim quanto de Salesópolis, possam denunciá-lo em algum momento”, concluiu.
Durante a investigação, a Polícia Civil apreendeu vários celulares, cadernos, velas e até peças de roupa que estavam no local em que ele atuava.
Polícia encontrou velas, celulares, cadernos e peças de roupa no centro religioso do falso médium, em Salesópolis
Polícia Civil/Divulgação
O que dizem as vítimas do falso médium?
A primeira vítima, de 26 anos, contou que conheceu o policial militar aposentado em 2020, quando começou a trabalhar em um mercado de bairro de propriedade do suspeito. Ela relatou que, além das atividades espirituais acontecerem no centro religioso, que fica nos fundos da casa em que o suspeito mora com a esposa e três filhas, parte das sessões eram feitas no próprio mercado. Por conta disso, ela acabou se interessando pelo tratamento espiritual e começou a frequentar o centro.
De acordo com o boletim de ocorrência, a vítima disse que, em meados de agosto de 2022, teve um desentendimento com o marido e decidiu desabafar com uma entidade chamada “João Caveira”, que estaria incorporada no suspeito. Durante essa conversa, o homem que dizia estar incorporado afirmou que a vítima “se apaixonaria por um homem de olhos verdes”.
Dias depois, a mulher disse que a suposta entidade a mandou ficar até o final de outra sessão porque ela precisava dar um beijo no suspeito. Em troca, a jovem receberia “benefícios” não só espirituais, mas também materiais, como carro, faculdade paga, cabelos e unhas pagos e dinheiro. Entretanto, a vítima não beijou o suspeito.
Em outro momento, a jovem foi abordada mais uma vez pelo policial militar. Na ocasião, a situação aconteceu dentro do próprio mercado em que ela trabalhava e, também, o homem alegava estar incorporado por uma entidade diferente: uma mulher, “Tereza”. Segundo a vítima, a suposta entidade insistiu para que a mulher começasse a se relacionar amorosamente com o suspeito e que devia se “entregar” para ele – neste momento, a “entidade” apalpou as partes íntimas da mulher.
Após a vítima afirmar que não teria nenhum tipo de relação com o suspeito, de acordo com o boletim de ocorrência, o homem – que dizia estar incorporado – começou a ameaçá-la, dizendo, por exemplo, “vou acabar com sua vida e com a vida de seu filhos” e “vou fazer um trabalho para você nunca mais conseguir nada nessa vida” .
Em outubro de 2022, a jovem decidiu pedir demissão do mercado e se mudou para Biritiba Mirim com o marido. A mulher contou que, com o tempo, foi descobrindo casos semelhantes ao dela na cidade, até que, no começo deste ano, conheceu uma outra vítima do falso médium.
Essa segunda mulher, de 19 anos, contou que estava passando por problemas no relacionamento amoroso e, por conta disso, decidiu procurar ajuda espiritual. A entidade prometeu tratamento e cura espiritual, além de bens materiais, e, em troca, a jovem tinha que se relacionar sexualmente com o suspeito. Meses depois, o policial militar aposentado acabou estuprando a vítima, que estava vulnerável.
O policial militar aposentado foi preso nesta quinta por estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude, assédio sexual e curandeirismo. O caso foi registrado na delegacia de Salesópolis. Ele será encaminhado à Cadeia Pública de Mogi das Cruzes.
O g1 tenta localizar a defesa do suspeito.
O que diz a SSP
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) esclareceu que a Delegacia de Salesópolis instaurou inquérito policial para investigar todas as circunstâncias dos fatos. O policial militar aposentado, de 61 anos, foi preso e levado ao Presídio Romão Gomes.
“De acordo com as informações apuradas, o indiciado, que é líder de um Centro Espírita, cometeu abuso sexual e estupro contra ao menos cinco mulheres que frequentavam os rituais religiosos. As vítimas foram ouvidas pela autoridade policial, que solicitou exames junto ao Instituto Médico Legal (IML) e ao Instituto de Criminalística (IC) e realiza demais diligências para o esclarecimento dos fatos. Detalhes serão preservados devido a natureza da ocorrência”, disse a Secretaria por meio de uma nota.
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