Com 1,3 mil mortes no trânsito desde 2015, veja por que rodovias lideram casos em Campinas


Especialistas destacam que uso de estradas como avenidas, com diferença entre focos dos usuários de longas distâncias com os condutores de trechos urbanos, pode explicar volume de ocorrências. Acidente mata quatro homens e deixa dois feridos na Rodovia Santos Dumont, em Campinas
Reprodução/EPTV
Os acidentes de trânsito em Campinas (SP) foram responsáveis por 1.366 vidas perdidas entre janeiro de 2015 e dezembro de 2023. Levantamento do g1 a partir do Sistema de Informações de Acidentes de Trânsito em São Paulo (Infosiga-SP) mostra que, dos locais onde essas ocorrências foram registradas, as rodovias são as “campeãs” de mortes no município. Mas o que explica isso?
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De acordo com especialistas ouvidos pelo g1, o problema envolve, em sua grande maioria, uma mistura entre o tráfego de longo percurso e motoristas urbanos, que acabam utilizando estradas como avenidas, e a diferença de atenção entre um perfil e outro, e a combinação disso com a maior velocidade das rodovias, ajuda a explicar os números da acidentalidade.
Além de maior conscientização e preparo dos motoristas, umas das ações apontadas pelos especialistas está na adoção de vias marginais para separação desse tráfego urbano, como acontece, por exemplo, nas rodovias D. Pedro I (SP-065) e Anhanguera (SP-330). Mas nem todas têm essa possibilidade, como é o caso da Rodovia Santos Dumont (SP-075).
Das 1,3 mil mortes em 9 anos, 136 foram registradas na estrada que liga Campinas a Indaiatuba (SP), que possui trechos altamente urbanizados. Anhanguera e D. Pedro I aparecem na sequência – veja lista abaixo.

“Certas rodovias que têm muitos acessos laterais com vias urbanas acabam mudando de perfil de uso e passam a ter uma mistura de tráfego de longo percurso, que o motorista tem uma visão diferente da viagem dele do motorista urbano, que tem uma visão de chegar, entre aspas, ali pertinho. Normalmente o cuidado de acesso do urbano é menor do que o rodoviário”, explica Creso de Franco Peixoto, professor da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Unicamp.
Segundo o professor da Unicamp, essa intersecção entre esses dois perfis de usuários tende a gerar acidentes, e por isso que há investimento em vias marginais para “poder isolar o tráfego local e inclusive manter maior fluidez em momentos de pico na via principal”.
Especialista em segurança no trânsito, Marcus Romaro pontua ainda a questão da velocidade, que naturalmente é maior nas rodovias, e que isso deve ser levado em consideração por quem está na condução de veículo.
“É muito comum no trânsito urbano, em vias com velocidade de 40, 50 km/h, ver um atrás do outro, com um metro de distância entre eles. Na rodovia, a velocidade sobe para 80, 100 km/h, e muitos seguem esse perfil de comboio, colado um no outro”, detalha.
Romaro lembra que assim que a velocidade aumenta, o espaço necessário para o veículo parar também aumenta de forma esponencial. Enquanto a 40 km/h são necessários 10 metros, a 80 km/h, por exemplo, são precisos 40 metros de segurança.
“Falta formação, falta cidadania. É norma de circulação do Código de Trânsito Brasileiro que na rodovia o tráfego segue pela direita e a esquerda é para ultrapassagem. É preciso respeito. Em tudo na vida há quem seja mais rápido que o outro em determinadas atividades, e no trânsito não é diferente. O que não pode é ultrapassar limites, dos dois lados. Os mais rápidos, que não coloquem a segurança dos outros em risco, e do outro lado, os mais lentos, que também não atrapalhem o trânsito, uma vez que também colocam em segurança os demais condutores”, defende Romaro.
Carro capota e uma pessoa morre carbonizada na rodovia Bandeirantes, em Campinas
Jorge Talmon/EPTV
Comitê analisa ocorrências
Empresa responsável pela gestão do trânsito no município de Campinas, a Emdec informa que assim como ocorre na malha urbana, os acidentes em rodovias são analisados pelo Comitê Intersetorial de Análise de Óbitos Programa Vida no Trânsito, composto por representantes da empresa, das secretarias de Transportes e Saúde, Samu, Polícia Militar Rodoviária e concessionárias.
“Essas análises resultam em dados como perfil das vítimas e fatores de risco envolvidos nos acidentes, que embasam as políticas públicas para prevenção de óbitos e lesões no trânsito. A Emdec mantém parcerias com as concessionárias para promover ações educativas, principalmente voltadas aos motociclistas e pedestres (usuários mais vulneráveis), realizadas durante o Movimento Maio Amarelo, a Semana da Mobilidade Urbana (Semob) e as campanhas de segurança viária”, diz, em nota.
Locais com mais mortes
Para se ter uma ideia do volume de ocorrências na Santos Dumont, os 136 óbitos representam o dobro registrado na via urbana com mais acidentes fatais: a Av. John Boyd Dunlop, que no período de 2015 a 2023 teve 68 mortes.
Responsável pela SP-075, a AB Colinas informa que realiza em todo o seu trecho de concessão, diversas ações e campanhas que visam orientar e conscientizar os usuários que trafegam pelas rodovias que administra sobre a importância do comportamento seguro no trânsito.
“Em 2023, a empresa realizou 140 campanhas de conscientização que atenderam um total de 324.698 pessoas que participaram e foram orientados em campanhas voltadas para caminhoneiros, motoristas de veículos de passeio, motociclistas, ciclistas e pedestres. Desse total de campanhas, 66% foram realizadas ao longo da SP-075″, diz em nota.
A concessionária pontua ainda que realizou ações em conjunto com o Policiamento Militar Rodoviário (PMRv), que incluem fiscalizações de alcoolemia em diversos trecho da SP-075 para retirar da rodovia motoristas que estivessem dirigindo sob o efeito de álcool”.
Por fim, a AB Colinas defende que realiza monitoramento diário, tanto com equipes percorrendo o trecho 24 horas, como por sistemas de monitoramento por vídeo, além de ações de manutenção no trecho de concessão”.
Anhanguera, D. Pedro I, Bandeirantes…
Acidente entre carro e carreta deixa um ferido e causa lentidão na Rodovia Anhanguera, em Campinas
Reprodução/EPTV
Entre os 10 logradouros com mais acidentes fatais, 8 são rodovias que cortam Campinas. Anhanguera (SP-330) e Bandeirantes (SP-348), administradas pela AutoBAn, e D. Pedro I (SP-065), pela Rota das Bandeiras, são as que aparecem no topo junto da Santos Dumont.
Em nota, a CCR AutoBAn informou que que investe constantemente em campanhas educativas em todo sistema Anhanguera-Bandeirantes. “Ações essas que visam coibir acidentes e educar os motoristas para uma condução segura”, pontua.
A concessionária explica que são realizadas ações que simulam embriaguez através de um óculos, mostrando os efeitos das bebidas na direção; distribuição e instalação de antenas corta-pipa; café da manhã nas passarelas onde as equipes conversam com os pedestres sobre uma travessia segura; ações com ciclistas, pedestres, motoristas e motociclistas com alerta para o ponto cego de um caminhão; campanhas junto aos passageiros de ônibus intermunicipais para o uso de cinto durante as viagens; distribuição de panfletos educativos com relação a distração, uso de celulares ao volante e velocidade; e mensagens educativas em painés pelo trecho.
Já a Rota das Bandeiras, que também administra as rodovias Zeferino Vaz (SP-332) e Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-083), que também figuram na lista das 20 vias com mais ocorrências, pontua que “realiza periodicamente campanhas de conscientização e segurança no trânsito voltadas aos pedestres, motociclistas e motoristas”.
“O principal foco dessas campanhas ainda são os motociclistas, que somam grande parte do número de fatais no Corredor Dom Pedro”, destaca a concessionária.
Acidente na D. Pedro I, em Campinas (SP), envolve ao menos seis veículos de acordo com o Corpo de Bombeiros
Reprodução
Segundo a Rota, em 2023 foram realizadas 6 campanhas de conscientização no trânsito apenas na região de Campinas, atingindo em torno de 2 mil pessoas. “Houve a distribuição de panfletos informativos, adesivos refletivos, antenas corta-pipas, no caso dos motociclistas, além de palestras educativas com dicas para uma conduta mais segura no trânsito”.
Sobre a implantação de vias marginais, a concessionária informa que realiza a implantação entre os km 114 e 125 da SP-332, do acesso ao distrito de Barão Geraldo, em Campinas, até Paulínia. “O cronograma da concessionária prevê a execução das obras no prazo de 24 meses, até o final do primeiro semestre de 2025, com investimento total de R$ 141,8 milhões”.
E também obras de requalificação dos trevos existentes nos km 116 (Real Parque), 119+700 (Betel), 121+900 (Laranjão) e 125+950 (acesso ao Parque Zeca Malavazzi). “Todas as intervenções deverão contribuir para qualificar a circulação de veículos na região, que recebe cerca de 51 mil veículos por dia útil (considerados os dois sentidos)”, completa.
Campinas-Mogi e Campinas-Monte Mor
A Rodovia Governador Doutor Adhemar Pereira de Barros (SP-340), conhecida como Campinas-Mogi, assim como a Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença (SP-101), vias de grande circulação na metrópole, registraram no período analisado 34 e 26 mortes em acidentes, respectivamente.
Concessionária responsável pela Campins-Mogi, a Renovias informa “que trabalha constantemente com ações e campanhas de conscientização de motoristas, pedestres e ciclistas”, e que a “segurança viária é prioritária para a prevenção de acidentes e a redução de sua gravidade”.
“A Renovias tem salvado inúmeras vidas nos últimos 25 anos de concessão, com um PRA (Programa de Redução de Acidentes) sério e de resultados expressivos: redução de 61,4% no índice de acidentes; redução de 59,4% no índice de feridos; e redução de 46,4% no índice de mortos”, destaca.
Entre os investimentos na estrutura da SP-340, a Renovias destaca cbras de recuperação do pavimento nos trechos com maior volume de tráfego.
Carro envolvido na rodovia Campinas-Mogi, em Jaguariúna
Roberto Torrecilhas
Já a Rodovias do Tietê, que administra a Campinas-Monte Mor, enfatiza que “faz campanhas constantes de conscientização com o objetivo de sensibilizar os diversos públicos que utilizam a rodovia como pedestres, motociclistas, motoristas de veículos de passeio e caminhoneiros”.
“Em 2023, a concessionária reforçou a sinalização da via no trecho entre Campinas e Hortolândia, com faixas de advertência aos usuários sobre a responsabilidade de respeitar as leis de trânsito. Viaturas são posicionadas em pontos estratégicos em uma ação chamada Operação Visibilidade e usadas também quando há a formação de fila, com o objetivo alertar os motoristas e reduzir o risco de colisões”, destaca.
A SP-101 passa atualmente por recuperação de pavimento no trecho de Monte Mor, e há previsão de implantação de duas passarelas, ainda em 2024, nos kms 17 e 22.
Mortes em 2023
Campinas (SP) encerrou 2023 com 161 óbitos nas ruas, avenidas e estradas que cortam a metrópole, alta de 7,3% em relação ao ano anterior e maior volume desde 2016.

Maiores vítimas 🏍
Os motociclistas e pedestres são as maiores vítimas do trânsito de Campinas. Segundo o Infosiga, no acumulado de 2023, 83 das 161 mortes foram de condutores ou passageiros de motocicletas, o que representa 51,5% do total. Já o percentual de pedestres foi de 26,7% – foram 43 óbitos:
Mortes por tipo de veículo em 2023
Automóvel: 27
Bicicleta: 3
Caminhão: 1
Motocicleta: 83
Não disponível: 2
Ônibus: 1
Outros: 1
Pedestre: 43
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Paulo Bernardino/Arquivo pessoal

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