Cama com percevejos-de-colchão? Saiba mais sobre o inseto e o que fazer para evitá-lo


Espécie se alimenta de sangue e se esconde em locais como poltronas, sofás e cabeceiras. No Brasil, a espécie mais encontrada nas casas é a Cimex lectularius, que possui distribuição por toda ou maior parte do mundo
Paul/iNaturalist
Já imaginou chegar para descansar no quarto de hotel e se deparar com a cama cheia de insetos? O casal Isadora Januzzi e George Bessa, residentes de Recife (PE), estava em férias em São Paulo e encontrou um quarto repleto de percevejos-de-colchão, também chamados de percevejo-de-cama.
Eles são insetos da ordem Hemiptera – a mesma das cigarras, soldadinhos, percevejos de plantas, baratas-d’água e barbeiros. A família a qual pertencem é chamada de Cimicidae, uma das únicas de percevejo que se alimenta de sangue.
Nesta família, existem cerca de 110 espécies, mas somente duas delas causam problemas ao ser humano: a Cimex lectularius e a Cimex hemipterus.
Com alguns registros na América do Sul, o Cimex hemipterus é mais encontrado em regiões da África e Ásia e são pouco estudados pela ciência.
No Brasil, a espécie mais encontrada nas casas é a Cimex lectularius, que possui distribuição cosmopolita, ou seja, está presente por toda ou maior parte do mundo, tanto na área urbana quanto na rural.
Na natureza, percevejo-de-colchão vive próximo a ninhos de aves, morcegos e outros vertebrados
Gilles San Martin/iNaturalist
O biólogo especialista em insetos César Favacho explica que, na natureza, esses percevejos vivem próximos a ninhos de aves, morcegos e outros vertebrados.
Eles se alimentam de sangue em todas as fases da vida, inclusive quando nascem, então são considerados parasitas externos obrigatórios, como os piolhos. Geralmente ficam escondidos em frestas, ranhuras ou detritos durante o dia, saindo para se alimentar do sangue do hospedeiro quando ele está dormindo
A dispersão desses indivíduos ocorre, normalmente, dentro de veículos, malas e outros objetos transportados de um lugar para o outro, podendo, até mesmo, pegar “carona” em roupas para se esconderem.
Evidências históricas
Segundo César, a espécie que aparece em nossas habitações possui uma longa história de presença em comunidades humanas. “Provavelmente esses indivíduos já convivem com os humanos há mais tempo do que se existe registro. Há estudos que indicam que isso ocorre desde que os homens começaram a habitar cavernas na região da Ásia e do Mediterrâneo”, explica.
Espécie que aparece em nossas habitações possui uma longa história de presença em comunidades humanas
Marcel Nadal/iNaturalist
Depois, quando os humanos passaram a viver em locais fixos, as populações desses percevejos se estabeleceram permanentemente próximo às pessoas.
Um artigo publicado em 2020, intitulado “Percevejos: visão geral de classificação, evolução e dispersão”, mostrou que o registro mais antigo da família Cimicidae tem 100 milhões de anos, e que há cerca de 100 mil anos os percevejos passaram a priorizar os humanos ao invés dos morcegos.
O trabalho revela que, durante o período Holoceno, as condições climáticas mais úmidas levaram os humanos a migrarem das cavernas para cabanas mais adequadas, e os percevejos seguiram essa mudança.
“A relação entre humanos e percevejos se fortaleceu quando os humanos deixaram o estilo de vida nômade de caçadores-coletores para se estabelecerem como agricultores em vilarejos entre 8 mil e 5 mim a.C, acompanhando o aumento do comércio, viagens e migração para cidades”, explica César.
Cama é local propício
Ainda de acordo com o biólogo César Favacho, as camas são ótimos refúgios, pois possuem esconderijos nas laterais e embaixo delas. Outro lugar propício são poltronas, sofás e cabeceiras. Como não são espaços vigiados, os percevejos aproveitam para morar.
“Em aviões ou ônibus de viagens, é muito comum que eles apareçam para se alimentar do sangue dos passageiros enquanto dormem”, acrescenta.
César reforça que, embora sejam indivíduos pequenos, que medem cerca de meio centímetro de comprimento, eles são bem visíveis a olho nu. A identificação de uma infestação por percevejos no ambiente pode se dar de algumas formas:
Picadas que coçam e que, normalmente, estão alinhadas ou em zigue-zague no corpo;
Odor desagradável, parecido com mofo;
Manchas escuras e pequenas nos lençóis (fezes do inseto);
Pequenas bolhas vermelhas na pele.
Outra característica é que eles não possuem asas, o que dificulta a movimentação para maiores distâncias. Por esse motivo, eles sempre estarão localizados em áreas próximas aos hospedeiros. “Quando ele fica no lençol, por exemplo, é muito fácil para ele picar o ser humano”.
Animal possui corpo achatado, coloração marrom avermelhada e o hábito de viverem agrupados
Marcel Nadal/iNaturalist
Para descrever sua aparência, o animal possui corpo achatado e coloração marrom avermelhada. A espécie tem hábito de viver em grupos.
Apesar da picada assustar no início, o percevejo não transmite doença. No geral, a marca desaparece em uma ou duas semanas, mas em algumas pessoas pode causar reação alérgica com coceiras mais intensas.
Como controlar uma infestação
Em razão das picadas e coceiras, os percevejos-de-colchão são causadores de problemas dermatológicos. O jeito mais adequado de controlar as infestações é dedetizar toda a área afetada.
Percevejo nas costuras de um sofá-cama
Stephanie Lecocq/Reuters
No caso de infestações em móveis ou roupas, César Favacho diz que o ideal é que seja comprado um novo. Se essa não for uma opção, as roupas devem ser lavadas com água quente e secas em temperatura alta ou no sol.
Além disso, é importante limpar e aspirar regularmente as frestas da cama, o estrado e o colchão. “No caso do hotel que o casal estava hospedado em São Paulo, o ideal é acionar a recepção e solicitar a mudança de quarto”, conclui.
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